Brasil: acabou o passeio

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Normann Kalmus
Economista liberal, Knowledge Manager, Palestrante, Mentor | dinamização e crescimento de empresas + governos no mercado nacional e internacional

Como é possível que num orçamento de R$1,2 trilhão, o governo não seja capaz de cortar míseros R$30 bilhões?

Sem ti-ti-ti, por favor! Não adianta procurar culpados: precisamos realmente encarar o fato de que acabou a farra.

Nos últimos anos, fortemente embalados por aumentos nos preços das commodities, deitamos em berço esplêndido. Não foi só o “comandante” que errou, mas todos aqueles que acreditaram no almoço grátis e que se beneficiaram das gentilezas governamentais com chapéu alheio. 

Ficar fazendo previsões pretéritas não tem muito sentido, portanto, vamos considerar o que ainda pode ser salvo: o futuro.

Pode até ser bonitinho para a galera, mas, por favor deixem de tentar iludir a patuleia, organizando esses shows midiáticos enquanto o país está em queda livre.

Pedir à orquestra que seguisse tocando enquanto o Titanic afundava foi uma cena comovente, mas não resolveu nada.

Encarar o problema não é o tipo de atitude comum em nosso país, mas agora mais do que nunca é essencial, portanto, vamos avaliar o tal “pacote” lançado pelo governo federal.

Comecemos pela mais inócua: a redução dos cargos comissionados e o congelamento dos salários dos servidores vai gerar, na melhor das hipóteses, uma economia de R$252 milhões. Ridículo, considerando o montante (já insuficiente de saída) de R$26 bilhões de ajuste.

Mas não é nem de longe a cereja do bolo, considerando que as projeções oficiais tiveram como base um crescimento do PIB quando ninguém aposta em uma redução menor do que 0,6% em 2016.

Evidentemente o ponto central do tal ajuste fiscal (tardio) é o aumento da carga tributária. Para amenizar o impacto, o ministro Levy resolveu dizer que a CPMF já conhecida, será temporária, por um prazo não superior a 4 anos, mas espera-se com ela arrecadar R$32 Bilhões.

Nada mal, não fosse um pequeno detalhe: esqueceram de combinar com o Congresso, que não está nem um pouco disposto a assumir a responsabilidade e o desgaste de aprovar mais esse desfalque nos bolsos da população que, por sua vez, está absolutamente farta de pagar impostos, sem o retorno devido.

Pouca gente faz a conta mas o orçamento da união é de R$1,2 TRILHÃO. Ninguém em sã consciência deveria ter problemas para cortar míseros R$30 bilhões, certo? O problema é que nosso orçamento é todo “engessado”, ou seja, quase tudo o que se arrecada tem destinação certa.

Tivesse alguma representatividade, a presidente buscaria somente um alvo: acelerar a votação da emenda constitucional que amplia de 20% para 30% a DRU (Desvinculação das Receitas da União). O problema é que não há condições políticas reais, nem confiança na discricionariedade do mandatário.   

Não existe uma solução mágica, mas qualquer que seja ela, passa necessariamente pela troca de comando.

Tivesse um mínimo de consciência de seu papel, a presidente chamaria para si a responsabilidade pelos desastrosos resultados e se declararia incapaz de manter um mínimo de estabilidade, da qual tanto necessitamos.

Seus asseclas e sequazes gritariam, com certeza, mas com a debandada haveria um mínimo de possibilidade de reorganização das forças políticas para pensar em como recuperar as fraturas na estrutura produtiva, sem a qual nenhum esquerdopata consegue sequer assentar dois tijolos.

Como é demais esperar qualquer laivo de decência dessa pessoa guindada ao posto de liderança mais importante do país, a população se posiciona fortemente apoiando o impedimento (se ainda não assinou, assine aqui), mesmo compreendendo que não serão fáceis os tempos que teremos adiante, mas pelo menos, haverá alguma possibilidade de organização.

Basta de aumento de carga tributária. A solução não está na retirada da capacidade de investimento da sociedade, mas, pelo contrário, na redução dos gastos improdutivos do governo, seja ele qual for.

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