Ocaso ou Aurora?

Picture of Normann Kalmus
Normann Kalmus
Economista liberal, Knowledge Manager, Palestrante, Mentor | dinamização e crescimento de empresas + governos no mercado nacional e internacional

Não sou alguém muito religioso no sentido latu, mas estes últimos dias têm me feito pensar bastante a respeito do movimento incessante de destruição e posterior recriação. Não sou adepto do “juízo final”, mas acredito que somos confrontados com o balanço de nossas ações de tempos em tempos.

A natureza é assim, a humanidade não poderia ser diferente, apesar de fazermos uma força danada para nos distanciarmos dela e parecermos algo supranatural.

O fato é que ontem me peguei estranhamente comemorando a prisão de um sujeito que eu nem conheço, embora exultar diante da desgraça alheia não faça parte de meu cotidiano. Mas neste caso específico, tenho que admitir que não só o fato ocorreu como, em grande medida, tenho justificada minha reação de alegria ao ver ruindo uma estrutura há muito estabelecida.

Dei-me conta que são tantos os milhões de dólares desviados, tantos os agentes envolvidos, que já não consigo mais lembrar de quase nada além de um percentual muito pequeno do noticiário. A confusão é tamanha que qualquer coisa abaixo dos sete dígitos (ou seja, milhões), não atrai sequer a atenção.

A imagem de Sodoma e Gomorra, destruídas pela fúria impiedosa do Criador (ou de um vulcão, dependendo do ponto de vista) vieram-me à mente e olha que lá a sacanagem tinha efeitos muito menos devastadores.

A casa caiu. E agora?

Justamente eu, que já fui “acusado” por ser certinho demais, mesmo nestes momentos turbulentos, tenho toda a tranquilidade porque agora eu posso olhar meus filhos de novo e dizer: “se ontem eu tivesse agido de outra forma, hoje estaria muito pior”. E olha que eu sei que ainda nem começamos a resolver os problemas que ainda teremos que enfrentar nos próximos (muitos) anos.

Se antes me sentia um “resistente”, hoje me sinto um revolucionário, no sentido que propôs Hanna Arendt:

Revolucionários não fazem revoluções. Os revolucionários são aqueles que sabem quando o poder está na rua e, então, eles o tomam

Hannah Arendt

O poder que temos nas ruas hoje é o da indignação contra uma estrutura repressiva. Nossos governantes, ainda que eu os renegue, acreditam ter a autoridade para fazer o que lhes bem aprouver, desde que atinjam seus objetivos de manutenção do poder.

Em nenhum momento essas criaturas hoje acuadas, imaginaram limites à sua atuação. Tudo lhes parecia lícito.

Fim e começo. Alfa e ômega. Yin e yang

Chegou o momento da destruição para novo reerguimento. É o julgamento, o ajuste de contas mas, principalmente, o momento de avaliar o que é que queremos para o futuro.

É necessário rapidamente aproveitar a indignação geral e realizar algo novo. É imprescindível demonstrar que o problema não está em ter dinheiro, mas em como ele foi feito, às custas de quê e de quem.

Não se trata de criticar o lucro, muito pelo contrário, mas de repensar nossos pequenos atos, nossas pequenas licenciosidades e perceber que princípios são essenciais para uma existência pacífica e equilibrada.

A foto que ilustra este texto é um por de sol? Um nascer de sol? Eu sei, mas não vou contar. Escolha por você mesmo.

plugins premium WordPress