Nuvens negras. E daí?

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Normann Kalmus
Economista liberal, Knowledge Manager, Palestrante, Mentor | dinamização e crescimento de empresas + governos no mercado nacional e internacional

Olhando além do que nos mostram

Sou economista, portanto, não me acusem de pessimista porque sou um profissional da chamada “ciência lúgubre”: simplesmente não admito a ideia de desconsiderar o tamanho da tempestade que se aproxima e não tento trocar de óculos para enxergar róseas as nuvens que são plúmbeas. 

Mas não é porque as nuvens pesadas estão sobre nossas cabeças que simplesmente vamos nos esconder e esperar que se dissipem no horizonte: é tempo de agir.

Tenho visto gente demais prestando atenção demais às notícias devastadoras enquanto poderia começar a procurar nessas mesmas notícias, novas oportunidades, novas estradas.

Para usar a metáfora da foto que ilustra este texto, apesar do céu carregado, perceba que tem uma estrada a seguir.

A velha divisão do trabalho

Fazia um certo tempo que não viajava para a Europa e fiquei realmente impressionado com o que vi, apesar de todos os problemas. Está bem, admito: fui para a Alemanha, que não é o lugar mais complicado da UE, mas para começar a conversa, o propósito da viagem foi exportação de energia. E sabe o que vi por lá: oportunidades infinitas para nós, sul-americanos, donos das maiores extensões de terra agricultáveis, muitas das quais desperdiçadas ou subutilizadas.

Se tem uma coisa difícil de mudar é a localização dos países e, portanto, suas condições edafoclimáticas e não temos tido grande interesse em perceber que além das já tradicionais culturas de soja e milho e, eventualmente as diversas pecuárias, não buscamos alternativas para regiões onde  essas atividades não se desenvolvem bem.

Quer um exemplo, somente Mato Grosso do Sul tem algo entre 8 e 12 milhões de hectares de terras degradadas ou subutilizadas! Como assim “entre 8 e 12”? É porque nem isso conseguimos definir ao certo e, para muitos, uma margem de erro de 50% é aceitável.

Voltando à viagem, estive numa cidadezinha no norte da Alemanha, às margens do Mar Báltico e, além de perceber que em praticamente todas as fazendas no caminho existem geradores eólicos, logo na entrada do lugar existia uma usina fotovoltaica. Como? Julho, alto verão, eu com o meu agasalho básico, curtindo os 20 graus por causa do vento frio e olhando para uma fábrica de energia solar? Yes / Ja / Sim!

Mas não termina aí: fui visitar também uma fábrica de pellets de biomassa. Lá não se queima mais madeira bruta e o carvão mineral corretamente passou a ser identificado como um vilão a ser combatido, portanto, todo mundo usa pellet, o que faz desse mercado uma oportunidade enorme para nós, que temos espaço, água (por enquanto pelo menos) e sol abundante.

Para quem ainda não entendeu, podemos, sim, produzir energia limpa e exportá-la para o restante do mundo, sem prejudicar o cultivo de alimentos e sem comprometer nosso meio ambiente. Basta saber usar o que temos.

A velha conhecida infraestrutura

Sim, é verdade que nos falta infraestrutura. Li uma matéria ontem dando conta que nossos portos não terão capacidade para atender as importações de adubo, mas, se você olhar direito para o mapa, vai ver que sim, existem alternativas e que o pouco que temos, usamos mal.

Um exemplo a ser seguido: o canal de Kiel, na Alemanha, que liga a região de Hamburgo ao Mar Báltico, evitando que as mercadorias tenham que circundar a Dinamarca, existe desde os anos 1800 e hoje recebe 70.000 navios por ano.

Um exemplo do que não fazer: nós preferimos mandar produtos por terra, queimando petróleo esburacando estradas milhares de quilômetros de estrada, quando essas existem, em vez de tentar resolver problemas ridiculamente simples para utilizar a maior hidrovia sem eclusas do mundo: o Rio Paraguai.

A solução não está no governo, está em nós.

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