Criando dificuldades, vendendo indulgências, colhendo problemas

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Normann Kalmus
Economista liberal, Knowledge Manager, Palestrante, Mentor | dinamização e crescimento de empresas + governos no mercado nacional e internacional

As dificuldades no Brasil são plantadas a partir de uma herança intervencionista monarquista, com o objetivo essencial de “vender indulgências”. Mas os tempos são outros e o resultado só pode ser uma abundante colheita de problemas.

Folha de São Paulo, definitiva e comprovadamente um dos veículos mais alinhados com o governo federal, publicou uma informação impressionante: a governanta do Brasil concedeu desde 2011 a bagatela de R$458 bilhões em desonerações fiscais.

O dado foi apurado por auditores da Receita Federal, portanto, merece algum crédito e inclui interessantes dados como, por exemplo, o tipo de produtos beneficiados, que vão de automóveis a queijo do reino, passando por móveis, máquinas de escrever em Braille e investimentos financeiros.

É claro que a justificativa é sempre a de intervir positivamente na economia de forma a evitar ou reduzir o impacto dos movimentos negativos do mercado, no que costumamos chamar de “intervenções anti-cíclicas”.

Para começo de conversa, considerando o estado geral da economia, é óbvio perceber que algo não funcionou bem. 

Mas a despeito do desastre geral, algumas declarações, inclusive de empresários como foi o caso do presidente do Itaú, ainda defendem a manutenção da estrutura. 

Aí entra a segunda questão, que é o tema deste texto: as desonerações, assim como tantos outros mecanismos de exceção, servem para dominar os agentes econômicos e mantê-los sob controle, exigindo um relacionamento estreito com o poder político.

Desde a monarquia as isenções sempre foram consideradas uma espécie honraria, um atestado de proximidade com a realeza.

A nobreza não pagava impostos, o que era visto como a prova do bom relacionamento com o Rei. Isso se justificava pelo fato de que seria ela – a nobreza – que defenderia o povo em caso de guerra, o que evidentemente era uma balela. Data dessa época também a isenção tributária do clero, o que deixava o povo, a plebe rude e ignara, com a obrigação de pagar o necessário para garantir-lhes a vida fausta.

Vivemos no Brasil, portanto, um sistema tributário monárquico-feudal. O Presidente-Rei estabelece quem são seus amigos, justificando à plebe o tratamento especial, como o que acaba de acontecer com a indústria automotiva.

Eu não defendo o aumento da carga tributária, evidentemente, mas é óbvio que, ao privilegiar um ou outro setor, o governo passa a manter com ele uma relação que, embora legal, é imoral. É uma espécie de “mensalão” ao contrário ou, como diriam alguns, um “cala-boca”.

Não vejo a menor possibilidade de mudar a essência das relações entre o poder público e o setor privado enquanto as regras tributárias não forem claras e simples.

É natural, portanto, que sejam poucos os que lutam pela simplificação do sistema tributário. A maioria de nossos empresários – e políticos – ainda defende um tratamento preferencial, não percebendo que é nele que reside a essência da corrupção.

É o momento de pensar sobre o que queremos: liberdade e estabilidade para empreender ou a tutela instável do Estado.

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